“A Casa dos Segredos” e a formiga


A última edição de “A Casa dos Segredos” teve 105 mil inscritos, mais do dobro dos que se candidataram ao ensino superior na primeira fase (pouco mais de 42 mil). Parece que há mais gente a querer ser estrela do que a querer ir para a faculdade.

Concorrer à faculdade, estudar e terminar um curso é uma dificuldade! É mais trabalhoso do que passar uns meses num realitty-show que dá fama e protagonismo a uns poucos concorrentes durante uns tempos. Perante um futuro muito incerto, dada a crise no mercado de trabalho, é mais tentador ter um tempo, por mais curto que seja, de fama e algum dinheiro, do que ter que trabalhar meses a fio para uma carreira que parece mais um sonho do que uma possibilidade. A questão – lá está – é que tipo de futuro queremos construir e até onde.


Todo este panorama de uma vida sem objetivos e com uma promessa de sucesso descartável leva-me a pensar nisto: enquanto nos entretemos a ver a vida dos outros (e o muito lixo que nos entra pela vida a dentro) e a levar a nossa ao sabor do vento, há um futuro à nossa espera... e o que estamos a fazer em relação a isso? Sem mais “conversas”, deixem-me ser muito direta e prática: se queres ter um futuro, precisas investir nele. É certo que não podemos viver o futuro agora, mas podemos olhar em frente e prepará-lo da melhor maneira. Aprendemos isso claramente não a olhar para o canal “A Casa dos Segredos”, mas a observar um inseto bastante pequeno: a formiga.

Vai ver a formiga, ó preguiçoso; vê como ela faz e aprende a lição. Ela não tem capataz, nem oficial, nem patrão, mas faz as suas provisões de comida no verão; armazena no tempo da ceifa o seu alimento. Até quando vais ficar deitado, ó preguiçoso? Quando te levantarás da cama? Mal te dá o sono e adormeces, mal cruzas os braços para te deitares logo a pobreza e a miséria virão atacar-te, como um vagabundo ou um salteador armado.” (Provérbios 6:6-11, BPT)

Há três coisas importantes, úteis e práticas que podemos aprender com esta comparação. Vamos pensar nelas.

INICIATIVA
Ao contrário do preguiçoso, a formiga tem iniciativa própria. Esta deve ser também a tua atitude nesta fase, procurando informações acerca do ensino profissional/superior e, consequentemente, do “mundo” do trabalho. Seja em que circunstância for, não fiques de braços cruzados.

RESPONSABILIDADE
A formiga trabalha sem ter ninguém a mandar nela, enquanto o preguiçoso precisa que alguém esteja “em cima”, a vigiá-lo. Não estejas à espera que alguém te diga “as candidaturas terminam amanhã”, ou então “tens uma média tão baixa que não podes concorrer a ‘nada’!”. Lembra-te que mesmo que os teus pais/encarregados de educação te queiram ajudar e te lembrem que precisas estudar, etc., a pessoa que mais vai beneficiar com tudo isto és tu! Por isso, não guardes “para a última”, mas começa já (mesmo que estejas ainda no 9º ano) a informar-te acerca das várias possibilidades.

OBJETIVOS
O preguiçoso só pensa no “aqui e agora”, enquanto a formiga tem a sabedoria e o cuidado em prepara-se para o futuro (neste caso, para os dias de Inverno em que não haverá possibilidade de ter alimentos). Algumas pessoas só se preocupam com as necessidades do momento (tirar positiva; passar o ano) e esquecem-se de pensar a longo prazo (ter uma boa média para escolher/candidatar-se a um curso e ter um emprego). Deves lembrar-te que é preciso fazer opções quando tens como objetivo fazer uma formação (seja profissional ou superior). Em todo este processo (e quando trabalhares) nem sempre vais poder fazer tudo o que gostas, e às vezes vais ter que fazer o que não gostas (como estudar aquela matéria mais complicada enquanto os teus amigos vão para a praia).  

O QUE POSSO FAZER?
Aqui ficam algumas dicas para que possas preparar o teu futuro profissional, com Deus:

1.    Deus vem sempre em primeiro lugar. É importante orares e procurares a ajuda de Deus em todas as tuas decisões. Em todo o processo, tem equilíbrio: há tempo para estudar e tempo para estar com Deus (seja em casa, seja com os teus manos e manas da igreja). É por isso que quanto mais cedo investires no estudo, melhor;
2.    Tem em conta os teus desejos pessoais e dá tempo para “amadurecer” os teus gostos. Deus criou-nos com determinadas capacidades e potencial. Os nossos desejos pessoais devem ser confirmados com o tempo – nem sempre  aquilo que pensamos ser superinteressante com 14 anos vamos querer seguir aos 17;
3.    Analisa as circunstâncias para ver as tuas oportunidades. Procura informações acerca das possibilidades de estudo/profissionais. As universidades têm dias abertos, onde podes conhecer aquilo que lá se aprende. Podes ir a feiras específicas da área do ensino. É importante agarrares oportunidades de voluntariado relacionadas com a área profissional que gostarias de desenvolver no futuro e procurar conhecer pessoas que trabalhem nessa área (as suas experiências, o que fazem, etc.);  
4.    Procura aconselhamento familiar, pastoral e profissional. Não é o momento de pensares sozinho, precisas de conselheiros (Provérbios 15:22). Existem gabinetes de apoio nas escolas onde podes fazer testes de aptidão e análise da personalidade, que te vão ajudar a entender quais as áreas para as quais tens tendência. Existem outras instituições que te podem apoiar nesse processo também (vê os links);

Quando não nos esforçamos, ou trabalhamos sem objetivos, o nosso futuro vai depender de tudo menos de nós. É verdade que não podemos controlar as circunstâncias (o professor que não nos sabe explicar a matéria e nos dificulta a vida, o escasso mercado de trabalho e/ou o facto dos nossos pais não terem condições para nos ajudar a continuar os estudos), mas precisamos fazer a nossa parte.

Por vezes espiritualizamos e achamos que “basta confiar em Deus”. É verdade que devemos entregar o nosso caminho (os nossos passos e decisões) a Deus e Ele vai ajudar-nos (lê o Salmo 37), que devemos coloca-Lo como o nosso guia e Senhor, mas, não te enganes: é preciso trabalho, esforço e dedicação na vida.

“Em todo o trabalho há proveito; o muito falar só conduz à pobreza” (Provérbios 14:23, BPT)

Ana Ramalho Rosa

Links úteis 
  • Portal da Juventude - juventude.gov.pt
  • Instituto Português do Desporto e Juventude - www.ipdj.pt
  • Agência Nacional para a Qualificação e o Ensino Profissional - www.anqep.gov.pt
  • Direção Geral do Ensino Superior - www.dges.mctes.pt
  • Instituto do Emprego e Formação Profissional - www.iefp.pt
  • Revista Forum Estudante - www.forum.pt
  • Futurália: futuralia.fil.pt
  • Qualifica: www.qualifica.exponor.pt
  • My Future: www.myfuture.pt
  • Inspiring Future: inspiringfuture.pt

Bibliografia:
MERKH, David J. O mapa da mina, Campinas, SP, JOCUM, 1997, págs. 133-134.
RAMALHO, Ana, “Perdidos – à procura da vontade de Deus”, in revista BSteen, nº 53, CAPU, Lisboa, maio de 2012, págs. 6-7.


in revista BSteen, maio 2015

Texto escrito conforme o novo acordo ortográfico

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