Epístola de Judas

Esta epístola é um dos livros mais pequenos da Bíblia, (composta por 1 capítulo e 25 versículos), sem ser dirigida a uma igreja em particular, escrita e dirigida a igrejas na Ásia Menor (atual Turquia).
Supõe-se, pelo uso extenso do Antigo Testamento, que os destinatários seriam cristãos convertidos do judaísmo. Terá sido composta entre 60 a 90 d.C. e obtém o seu nome a partir do seu autor.
Judas assume-se em primeiro lugar como servo de Cristo[1] e só depois como irmão de Tiago. Apesar das várias hipóteses, aquela que reúne maior consenso, é que Judas seria irmão de Tiago (figura proeminente da igreja local em Jerusalém) e do Senhor Jesus.
Esta carta é marcada pelo forte combate ao alastramento dos falsos mestres, assim como pelas várias menções a acontecimentos do Antigo Testamento. A forte influência do gnosticismo e do docetismo, levaram Judas a escrever às igrejas numa tentativa de as doutrinar e avisar em relação a esses falsos ensinadores.
Segundo as indicações que podemos ler (v. 5, 7 e 11), eram homens cuja doutrina seria destruidora de vidas (daí a referência à ação homicida de Caim),[2] além de buscarem de modo rebelde (uma rebeldia motivada pelo poder como Coré, Datã e Abirão),[3] e ganancioso o seu próprio bem estar (aqui é citado o exemplo da ganância e apostasia de Balaão)[4]. Para quem se dedique a este tipo de vida, o fim será o mesmo que o de Sodoma, Gomorra e dos anjos rebeldes (v. 4-6)[5].
Progressivamente, lemos que esses falsos mestres eram como perigos ocultos, que agiam de forma egoísta e apóstata quando os crentes se reuniam. A ortodoxia e efetividade desses mestres é colocada em causa pelo autor da epístola, através de uma descrição dura mas simples[6, 7].
É ainda uma epístola peculiar por citar dois escritos apócrifos (os livros de Enoque e da Assumpção de Moisés) de modo cultural e não retificativo. Isto é, Judas cita-os para reforçar a mensagem que transmite aos destinatários e não para criar uma nova doutrina.
Judas termina apelando a que os crentes se edifiquem no Espírito Santo (v.20), aguardando na graça de Deus (v.21) mas sem desleixar o amor ao próximo, agindo em conformidade com a situação pessoal de cada um (v.22,23). À semelhança da epístola de Paulo à igreja em Roma[8], Judas termina com uma doxologia[9] dirigida a Deus, na qual são reforçados o poder, a soberania, a autoridade e a capacidade de conservar os Seus filhos na segurança das Suas mãos.

Ricardo Rosa


[1] - Do grego doulos, servo não no sentido assalariado, mas um servo que se dedica ao seu senhor voluntariamente e em prejuízo dos seus próprios interesses; 2 - Génesis 4:1-15; 3 - Números 16; 4 - Números 31:16, 2ª Pedro 2:15; 5 - Génesis 19:1-29, Números 14:27-34; 6 - Judas 1:12-13; 7 - Ao referir-se a árvores “mortas duas vezes”, Judas dá a entender o processo destes falsos mestres. Ou seja, ter-se-iam convertido, passando da morte para a vida, apostatando e desviando-se da sã doutrina (tornando a morrer); 8 - Romanos 16:25-27; 9 - Do grego doxo (glória) + logia (palavra), uma forma de exaltação aplicada a Deus sobretudo no Antigo Testamento.

in revista Novas de Alegria, maio 2014

Texto escrito conforme o novo acordo ortográfico

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