O envelope perdido

Estávamos a chegar de mais um dia de trabalho, transito, compras, etc. Tínhamos acabado de estacionar e, ao sair do carro, mesmo “à minha porta”, estava um grande envelope no chão, que outrora fora branco.
Olhei duas vezes e pensei que talvez não fosse importante... mas, movida pela curiosidade feminina, apanhei-o do chão. Era um pouco volumoso. Lá dentro, descobrimos a quem pertencia. Por portas e travessas, conseguimos o contacto. O dono, agradeceu. Eram documentos importantes que ele tinha perdido, não sabia bem como.
Quando perdemos alguma coisa que é importante, ficamos com alguma angústia. Mas quando perdemos uma pessoa, pela separação da morte, ou pela distância, e a deixamos de ter junto a nós, a dor é muito pior.
Mais ou menos como o pai da história que se segue...
Certo homem tinha dois filhos. O mais novo disse ao pai: 'Dá-me agora a minha parte da herança a que tenho direito!' O pai concordou então em dividir a fortuna entre os filhos. Poucos dias depois, este filho, já na posse de tudo o que lhe pertencia, partiu para uma terra distante, onde desperdiçou o dinheiro com pândegas e na má vida.
Ao mesmo tempo que o seu dinheiro se acabava, a terra foi assolada por uma grande fome e ele começou a passar privações.  Foi então ter com um lavrador que o contratou para lhe tomar conta dos porcos. O jovem sentia tanta fome que até as bolotas que dava aos porcos lhe apetecia comer. Mas nem isso lhe davam.
Quando, por fim, caiu em si, disse consigo mesmo: 'Na casa de meu pai, até os trabalhadores têm comida em abundância e afinal eu aqui estou a morrer de fome! Vou voltar para o meu pai e dir-lhe-ei: 'Pai, pequei contra o céu e contra ti, e já nem mereço ser chamado teu filho. Peço-te que me contrates como trabalhador.'
Pôs-se então a caminho de casa. E ainda vinha longe, seu pai, vendo-o aproximar-se, e cheio de terna compaixão, correu ao seu encontro, abraçando-o e beijando-o. O filho disse-lhe: 'Pai, pequei contra o céu e perante ti, e já nem mereço ser chamado teu filho.'
Mas o pai disse aos criados: 'Depressa, tragam o manto melhor que houver em casa e vistam-lho; e ponham-lhe um anel no dedo e calçado novo! Matem o bezerro que estamos a engordar; porque vai haver grande festa, pois este meu filho estava como morto e voltou à vida; estava perdido e tornou a ser achado.' Com isto começou o banquete.” (Lucas 15:11-24, OL)
Este filho, perdeu-se nos caminhos da vida. Do mesmo modo, o ser humano tem-se perdido nos seus atalhos e decisões. Mas, assim como o pai da história se despojou da sua posição de senhor respeitado da comunidade para correr até ao seu filho sujo, por dentro e por fora, e recebê-lo de braços abertos, Cristo deixou a glória para dar a vida por nós, esperando-nos cada dia que passa para nos receber.
Resta-nos, como aquele filho, reconhecermos a nossa condição. Erramos. Somos pecadores. Precisamos voltar-nos para Jesus, que continua de braços abertos não apenas para nos acolher como estamos e somos, mas para nos limpar e restaurar, trazendo-nos para a família de Deus – a Igreja – lugar onde somos filhos amados e servos amorosos, onde crescemos n’Ele, com Ele e para Ele, onde esperamos pelo dia em que O vermos, face a face, e poderemos agradecer a Sua graça e misericórdia, eternamente.


Ana Ramalho Rosa

in revista Novas de Alegria, dezembro 2013

Texto escrito conforme o novo acordo ortográfico

Comentários