Árvore genealógica – parte 2/3

As genealogias nunca foram o meu forte. Não porque não ache piada, mas porque por vezes acabo por me perder entre laços familiares, ascendentes, descendentes e outros que tais. Mas no fundo, qualquer família começa com alguém…

Se as gerações mais velhas das nossas igrejas são um pouco como Abraão (dar um olho aqui), então a geração seguinte é a geração de Isaque. E podemos dizer que foi uma geração extremamente abençoada, enriquecida pela obra dos que começaram antes e que desfrutou de tudo o que de bom veio a nascer. Abraão plantou, Isaque colhe. A lei da sementeira funcionou extremamente bem.

Gostemos ou não, Isaque é o primeiro menino bonito da Bíblia. É nele que se começa a cumprir a promessa de Deus a Abraão[1], que numa idade extremamente improvável veio a ser pai[2]. Foi a alegria da mãe[3] e por isso não é de estranhar que possa ter crescido de modo mimado, não num sentido demasiadamente negativo, mas de algum modo mais privilegiado que o seu irmão Ismael.

Esta ilustração ajuda-nos a perceber que muitas vezes, a geração de Isaque vive mais à sombra da geração de Abraão do que faz a sua peregrinação de fé e obediência. É muitas vezes a geração dos nascidos nos bancos da igreja, a geração que toma as coisas por garantidas. Ainda assim, a obediência a Deus acaba por vir em momentos críticos e começa a estabelecer-se[4], a buscar a vontade de Deus e a louvá-Lo sinceramente[5]. É a geração a quem é reconhecida a bênção, não só porque a anterior estabelece os fundamentos, mas porque também erige as paredes e o tecto da habitação. É a geração dos menos sacrifícios e mais folias, é o eterno irmão do meio que não parece destoar, que não tem que dar o litro como o primogénito, mas que também não é irresponsável como o mais novo.

Convém lembrar que muitas vezes é a geração dos milagres gozados e vistos. Isaque é em si um milagre, mas apercebe-se cedo que poderia não ser assim tão milagre quanto isso. Pelo contrário, Isaque é o milagre que recebe um milagre, é o centro da afeição de Abraão e Sara que é mandatado a ser oferecido em sacrifício. Deus distingue aqui os corações sinceros dos vira-casacas.

Uma geração fervilhante que cresce na igreja e é um milagre, Deus torna possível que nasçam e cresçam num ambiente de comunhão trabalhosamente erguido, sem tantas lutas e perseguições, sem tantos dilemas de fé. Goza-se do estatuto da hereditariedade do nome de família, vêem-se doentes ser curados, endemoninhados libertos, milagres, bênçãos e maravilhas… E abre-se a porta a um admirável mundo novo em que a fé é a bússola e os acontecimentos são marcantes. Tão marcante, que por vezes aqueles que se opõem a nós, acabam por reconhecer que Deus afinal sempre é Senhor. Aconteceu o mesmo com Isaque e Abimeleque[6]. É quase uma carta das autoridades para que façamos o nosso barulho, mas para que não os incomodemos em demasiado.

Isaque desfrutou do que Abraão conseguiu em primeiro lugar, não foi forçado ao dilema de escolher entre a posteridade e a voz de Deus. Aceita alianças com quem antes lhe tinha fechado a porta, torna-se mais sociável, mais inserido nos contextos do mundo em que vive. Isto não é um apelo ao eremitismo, é a constatação da verdade. E com as constatações vêm os factos e os resultados. O mundo passa a ser uma ostra e esta geração é a sua pérola.

Quando o mundo funciona em ciclos, as gerações intermédias costuma ser as que mais beneficiam, mas também as que menos influenciam. É no final da Geração X (aqueles que nascem mais perto dos anos de 75/80 do que dos 60) que se situa a geração de Isaque. É a geração das emancipações, do início da construção da auto-satisfação e do ego. A geração do carpe diem elevado a um exponencial alto, que começa a cair na auto-suficiência e que perpetua sem saber porquê padrões de comportamento da geração anterior. Sejam eles bons ou maus[7].

A geração de Isaque é o ponto morto nesta caixa de velocidades. É sempre preciso passar por ele para acelerar, abrandar ou fazer marcha atrás. É sempre necessário lembrarmos do quanto já desfrutámos, do quanto Deus já nos deu e do que ainda vem pela frente. 

Assumimos o compromisso dos nossos avós como hereditário e geneticamente transmissível. Existe um apelo à santidade diferente, nas existe necessidade de arrependimento e de santificação. E o motivo é extremamente básico! Afinal, quem é filho de santo, menos santo não pode ser! Ou pelo menos é o que pensamos…

Ricardo Rosa
[1] - Génesis 17:19,21

[2] - Génesis 17:23,24; 18:10,21:5
[3] - Génesis 21:6,7
[4] - Génesis 26:1-6
[5] - Génesis 26:25
[6] - Génesis 26:26-30
[7] - Génesis 20; 26:7-11

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