Árvore genealógica – parte 1/3

As gerações do chamado pós-modernismo tendem a crescer como a terceira geração que descende de Abraão. Se a primeira geração abraâmica, ou seja o próprio Abraão (que pode ser mais ou menos equiparada à geração dos nossos avós na actualidade) teve que enfrentar a adversidade social da sua escolha para seguir a Deus; a segunda geração já não o fez (pelo menos tanto). 

Isaque gozou da prosperidade e do compromisso do pai, apesar de se ver envolvido numa prova de fé que dizia respeito ao seu pai[1], a falta de desafios levou-o a ser displicente com a geração que veio dele. Aqui encontramos a parte que diz respeito à geração dos nossos pais e a cada um de nós.

Quando olhamos para a primeira geração, vemos exemplos de que o compromisso com Deus pode ser duro e exigir de nós mais do que o assento comunitário ao domingo. Tal como Abraão deixou tudo para seguir a Deus[2], aquela geração submeteu a sua vida nas mãos do Pai com tudo o que daí advém. E o problema com as gerações posteriores começa aqui…

É fácil gozarmos das heranças dos mais velhos, sobretudo no que toca à igreja local. Muitas das congregações locais que conhecemos foram construídas à custa de orações, joelhos dobrados, trabalho voluntário e sacrificial, paciência, submissão, exortação e discipulado. A caminhada de Abraão e a promessa divina foram trilhadas de modo semelhante por muitos crentes, passando por desavenças sanadas pela Graça, mas também por perseguições em que irmãos socorrem irmãos. Foi o período duro, o período dos fundamentos, a parte da engenharia sobre qual assenta o restante edifício. Abraão respondeu por fé à sua chamada para ver cumprida a promessa que Deus lhe fez, os nossos anciãos responderam em fé ao compromisso com Deus para nos darem a nós a oportunidade de crescermos em santidade e comunhão com eles.

O que Abraão viveu e o modo como se relacionou com Deus levaram a que Abraão O invocasse e caminhasse diariamente com Ele[3]. Perante a fidelidade e compromisso, Deus honra Abraão com um pacto inviolável[4]. Na continuação da história sabemos que talvez inseguro do cumprimento da promessa, Abraão acaba por ter um filho que não era o prometido por Deus[5]. Foi um erro crasso que ainda hoje perdura.

As gerações anteriores também terão cometido os seus erros. No meio da sua ânsia de viverem completamente para Deus, poderão ter cometido os seus exageros e ter visto algumas coisas menos bem vistas. Ou então vistas de modo a que não levassem ninguém a desonrar a sua vida, o nome de Deus e a Sua Igreja.

O facto é que problemas sempre vão existir, tal como exageros ou défices de alguma coisa. Muitas vezes, queremos (à imagem de Abraão) dar uma “pequena” ajuda a Deus no cumprimento das Suas promessas ou da Sua vontade. E isso também aconteceu antes, acontece hoje e vai continuar a acontecer no futuro. A constante é simplesmente uma: somos humanos e mesmo num processo de santificação, ainda caímos e erramos. Precisamos da Graça de Deus para nos levantarmos (muitas vezes com a ajuda dos nossos irmãos e irmãs na fé) e continuarmos a nossa caminhada diária.

Os erros do passado não podem ser desculpa para a nossa rebeldia. Caso contrário, estamos na linha para que isso nos venha a acontecer futuramente. As gerações mais velhas devem ser estimadas e respeitadas, com os seus erros e coisas boas, com as suas seguranças e temores. Mas não podemos esquecer que se muitos de hoje estamos no trilho da fé em Cristo, no caminho da Salvação, é porque Deus usou pessoas que hoje podem estar “fora de moda” para alguns, pessoas que investiam mais tempo em Cristo do que no seu próprio gozo pessoal, pessoas que percebiam que a melhor maneira de perceber qual a vontade de Deus é através da oração, da Palavra e do compromisso.

A geração de Abraão é a geração da luta, do esforço para resistir a tudo o que é oferecido se isso não glorificar a Deus. Também é a geração que aos nossos olhos parece exagerada, aborrecida, ditatorial e castradora. Mas foi uma geração diferente, numa sociedade diferente e num mundo com uma rotação diferente.

Descendemos na fé de Abraão a quem Deus honra e cumpre a promessa de uma descendência infinita, mas também descendemos na fé de todos aqueles que vieram antes de nós e nos proporcionaram a bênção que é crescer dentro do contexto da igreja local, sem perseguição e com irmãos mais velhos para nos aconselharem, ampararem e amarem.

E para que também os honremos, mesmo nas nossas diferenças e divergências de métodos, façamos como Paulo nos ensina perante aquilo que consideremos erros dos mais velhos: “Não repreendas asperamente a um velho, mas admoesta-o como a um pai” (1ª Timóteo 5:11 JFAA)

Ricardo Rosa



[1] - Génesis 22
[2] - Génesis 12:1
[3] - Génesis 12:4, 8, 18; 14:17-20
[4] - Génesis 15
[5] - Génesis 16:1-4

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