Uma questão genética

As questões genéticas estão em foco. Falamos do fenómeno da hereditariedade e apontamos o dedo aos genes. Os genes do pai desculpam a tendência para ser anafado e os da mãe para ter problemas de atenção. Até na medicina se descarrega a culpa em vários pontos que não assumimos como nossos.

O problema do Homem em relação ao pecado é o mesmo. Embora sejamos nós a pecar, instintivamente sofremos do síndroma de Eva e descarregamos a culpa na circunstância ou malefício mais próximo, de modo a não assumirmos a nossa falha. Seja moral ou prática, a decisão é sempre nossa, logo as consequências também. Não podemos desejar assumir a origem de um acto mediante o seu resultado final. A minha opção de caminhar pelo caminho estreito é minha, embora Jesus já tenha advertido que o caminho que leva à Salvação é complicado[1].

A tendência genética que carregamos, leva-nos a culpabilizar o que nos rodeia, mas não nos isenta da herança pesada que temos[2]. Tal como na medicina, é preciso efectuar uma correcção do estilo de vida, para que não sejamos totalmente afectados por essa hereditariedade. A correcção é feita pela reconciliação no Gólgota, onde Jesus serviu como alvo para descarga dos pecados da Humanidade[3]. No entanto, isso não isenta de todo o Homem, que continua a pecar[4] (uma vez que está num processo a que chamamos santificação e que culmina com a glorificação, ou seja, o viver num corpo sem as tendências da carne e espiritual) e que continua a necessitar de reconhecer a sua falha e a sua necessidade de perdão e redenção.

Aceitar e assumir a nossa condição danificada, é o primeiro passo para nos encaminharmos para o processo de restauração. Não uma restauração que terminará noutra e assim por consequência em várias restaurações sucessivas, mas numa restauração que nos leva até à Glória eterna e a um respirar de pureza. No meio dos ardis do pecado e dos atavios do erro, o Homem tem que crescer e aprender a caminhar por fé.

Precisamos de ver o invisível, crer no impossível e ouvir o inaudível. Caminhamos para uma terra nova, onde a dor e a tristeza serão memórias longínquas e desvanecidas, onde a ira e a frustração não têm lugar. Uma viagem assente num ponto de viragem; a cruz!

De facto, Cristo pode ver reflectido no geneticista a Sua imagem. Ambos trabalham no mais ínfimo da criação, na zona dos pormenores e dos detalhes microscópicos. Ambos trabalham em algo que só é visível num plano comunitário. Mas só Jesus altera o destino final da nossa vida, ainda que mediante a nossa concordância e aceitação. Aceitar Jesus é como receber um transplante após remoção de um pedaço canceroso. O que recebemos não é nosso e é doado por amor, continuamos na batalha pela remissão da doença. Ao fim do tempo certo, estamos curados. 

A genética não é desculpa para tudo, sobretudo no seio da igreja local. Os feitios devem ser moldados e devemos buscar e seguir a santificação em paz com todos. Mas sem nunca fazer troça da obra na cruz.

Ricardo Rosa


[1] - Mateus 7:14
[2] - Romanos 3:23
[3] - Romanos 5:8
[4] - Romanos 7:19-25

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