Obediência?

No actual panorama social, é-nos dito que somos seres livres, criados para o nosso umbigo e com origem no vazio. A criação ex nihilo [1] não é desestruturada, não acontece por acaso, não tem como origem o nada em si. Mas é-nos vendida essa ideia, de que tudo o que conhecemos e vemos, tudo o que o nosso planeta é, provém do vazio e da ausência de um Criador. Essa “desordem” serve como desculpa para nos tornarmos antinomianos[2] e egocêntricos. Do propósito divino, herda-se apenas o síndroma messiânico e totalitário de que somos deus, pais de nós mesmos, reguladores morais e infalíveis de tudo o resto.

Como vemos então a nossa posição em tudo isto? Como nos posicionamos em relação à vida em si? Ora bem, crendo em Deus, devemos primeiramente assumir isso. Sim, existe um Criador. Sim, existe um Relojoeiro, um Arquitecto, um Designer, um Construtor, um Planeador… Não somos fruto do acaso, nem da soma aleatória de variáveis e inconstantes esticadas aos infinitos. Somos produto idealizado por Deus, desenhados para sermos felizes, estruturados para amar-mos e sermos amados, projectados para uma vida santa com base na imagem e semelhança divina de Deus.

Sabendo aquilo em que cremos, podemos passar rapidamente ao que somos ou devemos ser. A Igreja, enquanto corpo de Cristo, tem lidado com intrusões camufladas ou ataques frontais à sã Doutrina. Desde os tempos de Noé, a perversão da queda e o instinto auto-satisfatório do Homem leva a que existam ataques a tudo o que tem origem em Deus e se manifesta no ser humano. Neste momento, vive-se uma crise de revisão de valores, onde a sociedade teima em querer penetrar e infectar a Igreja com ideologias declaradamente anti-cristãs. A banalização da vida humana, a instrução e apologia para a auto-satisfação total, a necessidade mandatória de controlar, o desrespeito e desconsideração pelo papel da família (como Deus a institui) na sociedade, etc.

Infelizmente, a questão do egocentrismo humano também afecta o nosso serviço pelo Reino e condiciona a nossa proximidade do Pai. A não conformidade com a vontade de Deus, leva a que exista uma espécie de esquizofrenia espiritual. Tornamo-nos incapazes de decidir o que queremos ser, senão mesmo, tornamo-nos invariavelmente os pólos opostos de qualquer coisa ao mesmo tempo. Filhos humildes ou enteados mimados? Servos submissos ou escravos rebeldes? Herdeiros esperançosos ou caça-fortunas ansiosos?

Hoje, mais do que nunca, é urgente pensarmos na posição em que queremos estar. De que lado ficamos. Não podemos assumir uma posição de agente do contra, em que alternamos entre facções de acordo com o que ganhemos. A chamada de Deus para sermos filhos e filhas, também é uma chamada para O servirmos. A submissão aos padrões da recompensa divina deve ser uma realidade, não pela recompensa em si, mas pelo amor de quem nos cria e educa. Como Pai, Deus é perfeito e infalível. Como filhos, somos defeituosos e erramos sistematicamente. As Boas Novas dizem-nos que Ele nos ama apesar de tudo. E nós, amamo-Lo ou amamos a Sua recompensa?

No que é que se baseia a nossa obediência?

Ricardo Rosa

[1] - termo que define a origem de algo vindo do nada

[2] - posição que não reconhece qualquer Lei, seja ela moral, social ou cerimonial (p.e.)

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